Esta entrevista foi feita por e-mails trocados com companheiros do Centro Social Libertario - Ricardo Flores Magón (CSL-RFM) e do Coletivo Autónomo Magonista do México D.F. entre o fim de 2006 e o início de 2007. Relatam-nos sua história e descrevem o seu funcionamento e suas atividades. Também apresentam reflexões sobre a vigência do anarquismo e do magonismo no México e as perspectivas do movimento libertário.
Thierry Libertad: O que é o CSL-RFM?
Centro Social Libertario - Ricardo Flores Magón: É um velho sonho de um grupo de libertários da Cidade do México. O CSL-RFM é um espaço onde se concentram diversas iniciativas e projetos encaminhados para difundir o ideal anarquista, para promover a organização do movimento libertário e estreitar os vínculos com os setores sociais explorados e marginalizados de nossa região. O CSL-RFM é um lugar onde tentamos construir a partir deste momento uma prefiguração da sociedade anarquista que desejamos.
T.L: Quando foi criado e de quem foi a iniciativa?
CSL-RFM: Formalmente teve início em setembro do ano passado com um evento de apresentação, do qual celebramos recentemente o primeiro aniversário. O projeto é a continuação de várias iniciativas impulsionadas há vários anos, que não puderam integrar-se e manter-se. O já fundado Coletivo Autônomo Magonista (CAMA), retoma as iniciativas, dando-lhes continuidade e um novo impulso, além de incorporar outras; agora todas se concentram no CSL-RFM.
T.L.: Quem o integra e como funciona?
CSL-RFM: Os projetos que atualmente o integram são: Editora e Distribuidora Cultura Libre, periódico Autonomía, Biblioteca de Crítica y Alternativas Radicales, Cineclube Jean Vigo e recentemente inauguramos a Livraria Praxedis Guerrero. O CSL-RFM é também a sede na Cidade do México da Alianza Magonista Zapatista (AMZ), da qual fazemos parte. Como CAMA somos responsáveis pelo CSL-RFM, mas há coletivos que, possuindo seus próprios projetos ou fazendo trabalho em seus bairros, participam constantemente. As atividades são planejadas conjuntamente, os diversos coletivos e companheiros propõem uma ou várias atividades, e dividimos o tempo e os preparativos entre todos. Como coletivo nos reconhecemos como anarco-comunistas e defendemos a necessidade de organização, mas o espaço está aberto a todas as tendências do anarquismo e aos companheiros que não se declaram anarquistas, mas com os quais temos afinidades múltiplas.
T.L.: Qual é a meta que persegue e quais são suas perspectivas?
CSL-RFM: Para nós a mete segue sendo a Revolução Social, afinal de contas, todas as nossas ações são encaminhadas para ela. A perspectiva está cheia de obstáculos para se superar, quase tudo está por fazer. Apesar do sistema político autoritário e decadente que nos persegue, existe um grande desejo de transformação profunda, uma grande disposição para superar nossas limitações e conseguir plenamente os projetos e as metas que projetamos. Sabemos que para conseguir isso serão necessários muitos anos, até décadas, bastantes sacrifícios, mas nós e muitos companheiros no México já começamos a trabalhar com o pensamento fixo em nossos desejos.
T.L.: Quais são as atividades desenvolvidas pelo CSL-RFM?
CSL-RFM: Neste um ano de vida houve um grande número de atividades: apresentação de publicações, projeções, oficinas, grupos de estudos, reuniões, convívios, colóquios sobre diversos temas de companheiros mexicanos e de outros países, como Nelson Garrido, da Venezuela, Daniel Barret, do Uruguai, Bernard, da Nefac do Canadá e dos EUA, dentre outras. Tivemos uma conversa com os companheiros do Centro Social Libertário de Toulouse sobre as revoltas nos subúrbios da França. No mês de junho o CSL-RFM sediou o pré-encontro libertário, antesala do encontro de nível nacional, que será realizado em novembro de 2006 e por meio do qual esperamos dar um passo adiante na organização dos anarquistas no México. Recentemente houve uma jornada muito significativa com quase um mês de atividades comemorativas da Revolução Espanhola e em solidariedade aos presos políticos da brutal repressão do Estado mexicano sobre o povoado de Atenco, muito próximo daqui, em maio passado. Em momentos de repressão como este, o Centro Social serviu para reunir a comunidade libertária. Atualmente o setor de mulheres da Otra Campaña o ocupa para suas reuniões, devido à ausência de um espaço próprio.
T.L.: O CSL-RFM possui algum tipo de publicação?
CSL-RFM: Uma parte determinante do projeto é a questão editorial e de meios de comunicação em geral. Nossa principal publicação é o jornal Autonomía, um jornal centrado na temática anarquista e nas notícias das lutas sociais e de resistência ao capitalismo. Nesse mês de outubro editamos o número 27, depois de 8 anos de existência. Participamos também em outro jornal, o Viva Tierra y Libertad, que é o porta-voz da Aliança Magonista Zapatista. Começamos recentemente a Editora Cultura Libre com a publicação do nosso primeiro livro Magonismo: Utopía y revolucíon, 1910-1911, escrito por Rubén Trejo. Temos outras edições de baixo custo sobre diversas temáticas e autores, buscando incentivar a produção da teoria anarquista em nosso contexto, publicando alternadamente textos de autores internacionais e locais. Como muitas coletividades anarquistas, nosso outro grande sonho é o de algum dia contar com uma imprensa própria. O estímulo às rádios livres tem sido outra tarefa que desenvolvemos conjuntamente com as organizações integrantes da AMZ em Oaxaca, região situada ao sul do país que atualmente vive uma revolta popular. Por seu potencial como ferramenta de comunicação, temos o plano de estabelecer conjuntamente com os companheiros um centro de capacitação radiofônica dentro do CSL-RFM.
T.R.: Quem é Ricardo Flores Magón e porque foi escolhido o seu nome?
CSL-RFM: Foi um indígena de Oaxaca, um anarquista que participou na luta, junto com milhares de mexicanos e estrangeiros, por uma autêntica transformação no México por meio da revolução social no começo do século XX, durante a fracassada Revolução Mexicana. Para nós, Ricardo Flores Magón representa um espírito ético, lúcido, rebelde e indomável, enraizado na cultura comunal indígena, que influenciou de maneira determinante uma das maiores epopéias insurgentes do povo mexicano para alcançar sua liberdade. Sua atitude é a que inspira atualmente nossa militância anarquista, em tempos onde a exploração evoluiu, mudando de cara e de fachada, mas continua subjugando sem misericórdia nossos povos. Ricardo Flores Magón lutou até sua morte nas mãos do governo dos EUA; teve uma militância múltipla e inesgotável, foi um escritor prolífero e conspirador contra o Estado mexicano, possuiu, para seu tempo, uma grande clareza de ações e de idéias. Ter escolhido seu nome para o Centro Social foi também para prestar uma homenagem simbólica aos combatentes libertários que o acompanharam, os quais são conhecidos como magonistas.
T.L.: Quais são os problemas enfrentados pelo CSL-RFM: dinheiro, repressão policial, ...?
CSL-RFM: Estamos limitados economicamente, o que restringe ou torna mais lento o desenvolvimento dos projetos. Também não contamos com um espaço próprio, o que sempre deixa a incerteza sobre o que ocorrerá nos próximos anos. Sobre a questão policial, até o momento não houve nenhuma intervenção direta, apenas o acompanhamento de agentes vestidos de civis que costumam aparecer rondando os eventos, mas não somos ingênuos, sabemos que conforme for crescendo o CSL-RFM e o movimento libertário em geral começar a ter uma presença mais determinante na luta social, a repressão do Estado irá aumentar. Atualmente, vários companheiros que freqüentavam e eram próximos do CSL-RFM estão presos na prisão de Santiaguito, por razão dos sucessos de Atenco.
T.L.: Quais são os projetos do CSL-RFM a curto e longo prazo?
CSL-RFM: Em curto prazo estamos dedicados a melhorar os projetos que iniciamos até o momento: Editora Cultura Libre, jornal Autonomía, Biblioteca de Crítica y Alternativas Radicales, Cine Clube Jean Vigo e livraria Praxedis Guerrero. Em médio prazo estão os outros projetos que comentávamos: o centro de capacitação radiofônica e a aquisição de uma imprensa, o que esperamos conseguir juntando recursos com vários coletivos. Também estamos trabalhando para impulsionar uma rede de espaços anarquistas em centros libertários no país. Relacionado com essa iniciativa está o projeto de alguns membros do CSL-RFM de criar uma oficina de construção para a aquisição, adaptação e melhoria desses “bebedores” de anarquia. Outra tarefa para o CSL-RFM é ser um impulsionador no desenvolvimento da Alianza Magonista Zapatista na Cidade do México.
T.L.: Quais são os êxitos que o CSL-RFM considera ter obtido?
CSL-RFM: Achamos que o principal foi o de estabelecer uma pequena base, contribuir com um pequeno suporte, dos muitos que se necessitam, para renovar o desenvolvimento do anarquismo no México, após décadas de paralisação. Nesse momento o CSL-RFM está se tornando um espaço que contribui para o reencontro e organização de uma parte significativa da comunidade libertária na Cidade do México. Também, pouco a pouco, o projeto está dando sua contribuição para obter uma maior projeção social do anarquismo, estreitando os vínculos e fomentando as relações entre os anarquistas com companheiros de diversas lutas de resistência e de diversos setores sociais.
T.L.: Quais são suas relações, primeiramente com o movimento libertário mexicano e com a esquerda radical mexicana de maneira geral?
CSL-RFM: Temos relações muito boas com muitos dos companheiros que participam no movimento libertário, principalmente na parte central do México. Existe, por todo país, uma grande quantidade de grupos libertários, alguns têm vários anos de militância. No entanto, a maioria tem pouco tempo de criação e é composta por gente jovem. Alguns deles se dissolvem e se reintegram em pouco tempo com novos nomes, integrantes e iniciativas. Os companheiros de gerações anteriores mantiveram um longo período de isolamento e incomunicação com os novos companheiros. Nesse momento estamos reconstruindo os laços pouco a pouco. No CSL-RFM tivemos participações muito valiosas, por exemplo, com antigos integrantes da extinta Federación Anarquista de México (FAM). Como em qualquer lugar, também existem muitas formas diferentes de assumir a anarquia. No CSL-RFM, fomentamos a estratégia de priorizar a coexistência, o respeito da autonomia das pessoas e dos coletivos, a discussão franca, aberta e fraternal; evitando rumores, desqualificações, as sabotagens internas, no que, muitas vezes, lamentavelmente, caem os anarquistas. Com respeito à esquerda radical mexicana, esta é muito complexa, está formada desde tradicionais – e ortodoxos – partidos políticos de todas as vertentes autoritárias, passando por organizações representativas de cada setor social, até grupos guerrilheiros que têm presença, sobretudo, no sul do México. Grande parte dessa esquerda possui vários vícios em suas práticas: protagonismo, oportunismo, sectarismo, etc. (Dos quais alguns anarquistas não escapam). Existe, porém, um setor mais burocratizado e autoritário com o antigo e característico menosprezo a qualquer presença do anarquismo organizado. O CSL-RFM, por ser um projeto recente, só participou de alguns espaços e atividades de conjunturas recentes, onde converge grande parte da esquerda radical como em La Otra Campaña, a solidariedade a Atenco e a rebelião social que se vive em Oaxaca. Nesses espaços há uma convivência com todas as tendências, o que nos levou a protagonizar diferenças em várias ocasiões, e também, a começar a nos vincular de maneira crescente com setores com os quais mais concordamos, os quais, como nós, buscam outra forma de estabelecer relações e alianças, desenvolvendo estratégias de resistência frente ao autoritarismo do Estado, mas também, da própria esquerda radical.
T.L.: E com o movimento libertário internacional?
CSL-RFM: Nossas relações são principalmente com organizações e companheiros da América Latina, a parte chicana/mexicana dos Estados Unidos e o Estado espanhol. Algumas são: na Venezuela, a Comisión de Relaciones Anarquistas e El Libertario, com eles tivemos a oportunidade de assistir o Fórum Social Alternativo; no Brasil mantemos contato com Terra Livre, a Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), entre outras organizações, neste país tivemos uma participação simbólica na recente 1ª Feira do Livro Anarquista de São Paulo; no Peru mantemos intercâmbios com o jornal Desobediencia e no Uruguai com a Fundación de Estudios Libertarios Flores Magón e o jornal Barricada. Na Europa principalmente com companheiros do Estado espanhol, da Itália recebemos em uma ocasião o apoio da Editora Eleuthera e o Centro de Estudios Libertarios Giuseppe Pinelli, na Alemanha temos intercâmbios com a Cooperativa Café Libertad de Hamburgo e na França mantemos contato com o Grupo de Apoio aos Libertários e Sindicalistas Independentes de Cuba (GALSIC).
T.L.: Quais são as organizações e movimentos com quem trabalha e com quem atua o CSL-RFM?
CSL-RFM: Desenvolvemos nosso principal trabalho com duas organizações indígenas no sul do México: Organizaciones Indias por los Derechos Humanos em Oaxaca (OIDHO) e o Comité Defensa de los Derechos Indígenas de Xanica (CODEDI); com eles integramos a Alianza Magonista Zapatista. Esta aliança, que construímos ao longo dos últimos cinco anos, é fruto de uma profunda relação, a qual tem se baseado na solidariedade diante da repressão do Estado, mas também no conhecimento mútuo de nossos valores, princípios e formas de trabalho, sonhos e aspirações. Esperamos crescer, no que diz respeito à profundidade teórica, capacidade prática e número de organizações, comunidades e companheiros participantes; para se converter em uma entidade propulsora de uma proposta política e social que agrupe e complemente o que é para nós alguns dos pensamentos mais coerentes e avançados para uma genuína transformação social no México: o zapatismo, o magonismo e o anarquismo.
T.L.: No México, algumas organizações, em particular em Oaxaca (CIPO-RFM, COMPA...), reivindicam também a figura de Ricardo Flores Magón. O que vocês acham disso e quais são suas relações com eles?
CSL-RFM: A presença simbólica de Ricardo Flores Magón é muito grande em Oaxaca, lugar onde nasceu, logo, é de se esperar a reivindicação de Ricardo Flores Magón por diversas organizações sociais, comunidades e inclusive setores governamentais. Cada uma o faz com seus fins específicos e de acordo com seus interesses. Assim, por exemplo, o governo omite deliberadamente qualquer relação de Ricardo Flores Magón com o anarquismo, considerando inclusive essa afirmação um insulto; prestam-lhe homenagem como herói patriótico da Revolução Mexicana. A esquerda autoritária o reivindica como exemplo de caráter para a luta, de determinação e sacrifício para acabar com o capitalismo; eliminam, por meio do esquecimento, a postura libertária que o caracterizou em seus pensamentos e ações. Na Coordinadora Magonista Popular Antineoliberal (COMPA) participam nossos companheiros da OIDHO e CODEDI, que reivindicam profundamente o pensamento magonista, estabelecendo uma aliança com organizações sociais importantes e conseqüentes que, no entanto, não são magonistas. A COMPA é uma aliança de organizações sociais e indígenas que conseguiu agrupar magonistas e organizações que reivindicam o que eles chamam de poder popular – daí o nome magonista e popular – que possuem uma presença importante na resistência política no estado de Oaxaca. No caso do Consejo Indigena Popular de Oaxaca (CIPO) atual – porque há anos o CIPO, que desapareceu, era um conselho de organizações similar à COMPA –, eles mantêm uma reivindicação pragmática da figura de Ricardo Flores Magón e do termo magonismo. Há anos apoiamos o caminhar do CIPO original com oficinas e transmissores de rádio. Depois que este se dividiu, decidimos acompanhar o caminhar das organizações indígenas de OIDHO e CODEDI – que eram parte da CIPO –, com as quais agora integramos a Alianza Magonista Zapatista (AMZ). Respeitamos o trabalho do CIPO atual, mas não concordamos com sua prática política. Nós e os companheiros da AMZ, não pretendemos defender o “autêntico” magonismo, mas sim levar à prática um ideal que implica em si mesmo uma imprescindível ética política. Dar vida ao ideal magonista de anticapitalismo, comunalismo, autonomia, autogestão e organização revolucionária mediante o princípio da honestidade.
T.L.: Como vocês vêm o movimento libertário mexicano atual e quais são suas perspectivas (desenvolvimento, ...)?
CSL-RFM: O movimento anarquista está crescendo em quantidade de coletivos, projetos e gente envolvida em todo território. Há fortes perspectivas de desenvolvimento e um longo caminho por caminhar. O debate libertário ainda é limitado, também são muito estreitas as capacidades de comunicação, coordenação e cooperação entre os libertários mexicanos. Algo que achamos imprescindível para avançar é a necessidade de aceitação e lidar positivamente com nossas diferenças. Nas últimas décadas a tendência anarcopunk foi mais visível na cena local. Hoje acreditamos que seguem sendo uma parte importante, mas existe maior diversidade de correntes de pensamento anarquista nos novos grupos que estão aparecendo e que têm, apesar de serem novos, maior consciência e compromisso. O panorama que se aproxima no México é de uma decomposição atroz do sistema político parlamentar, com a ultra-direita agarrando-se ao poder a qualquer custo e implementando as práticas repressivas que a caracterizam. Diante desse futuro, existe a concordância entre os anarquistas da necessidade da organização, tanto para resistir à repressão, como para influenciar com nossa proposta os setores do povo que estarão em luta pela transformação do sistema nas próximas décadas. Um objetivo que se está apresentando insistentemente nos encontros e nos espaços anarquistas é o de voltar a criar uma federação anarquista no México. Para o que é mais imediato, em breve teremos um encontro anarquista de nível nacional, o qual, esperamos, será de importância fundamental para poder avançar na organização do movimento libertário e para o qual estamos preparando um trabalho prévio por regiões.
T.L.: Como vocês analisam a Sexta declaração do EZLN e como se situam dentro desse movimento promovido pelos zapatistas? O CSL-RFM participa?
CSL-RFM: Assinamos como Colectivo Autónomo Magonista a Sexta Declaração da Selva Lacandona. Quando os companheiros do EZLN a publicaram, vimos nela uma proposta conveniente e necessária para unir todas as resistências anticapitalistas em busca de encontrar “outra forma de fazer política” e alcançar um programa comum de luta, respeitando a autonomia de cada organização e pessoa participante. A Otra Campaña foi outra grande iniciativa ao propor-se a correr o país inteiro para dar voz e ligar todas as lutas do território. No entanto, os resultados até o momento têm certos limites por razões internas e externas. Entre as internas a principal é que a intenção de criar “outra forma de fazer política” não foi praticada pela maioria dos participantes. Essa é uma parte medular que se não for valorizada em sua importância irá se converter no principal obstáculo. “Outra forma de fazer política” para nós, implica muito do que o anarquismo tem proposto há muitos anos: autonomia, democracia direta, assembleísmo, horizontalidade, negação das vanguardas, busca do consenso, rotatividade e revogação dos delegados, socialização dos saberes e capacidades, respeito às minorias, e, em geral, uma ética na prática política. Infelizmente seguem prevalecendo no interior da Otra Campaña todos os velhos vícios da esquerda. Conjuntamente com tudo isso, entre os fatores externos, encontra-se um panorama político adverso com a social-democracia representada pelo Partido de la Revolución Democrática (PRD) que conseguiu aglutinar massivamente amplos setores marginais e de classe média, e que se assume como representante da esquerda no México. Têm conduzido suas ações do âmbito eleitoral a uma controlada Convención Nacional Democrática (CND) após a fraude eleitoral da direita nas eleições presidenciais de julho passado, com um discurso baseado na resistência civil pacífica, mediatizando e regulando sua luta pela orientação do partido. Existe neles um forte ressentimento contra os zapatistas e a Otra Campaña, já que nos julgam como um fator determinante de sua derrota frente à direita, o que nos parece absurdo. O pior é que transmitiram esse sentimento às suas bases. Em breve serão os trabalhos para elaborar o Plano Nacional de Lutas e debater sobre a nova constituição proposta pela Sexta Declaração zapatista, que, certamente já é também uma bandeira política do PRD. Esperamos superar os erros, caso contrário podemos fracassar, o que seria muito lamentável diante do panorama político do México nos próximos anos.
T.L.: Há algo a ser acrescentado? Uma mensagem aos companheiros da Europa?
CSL-RFM: Acreditamos que é necessário fomentar o conhecimento das experiências libertárias nas diversas partes do mundo, e sempre é enriquecedor saber o que pensam e realizam os anarquistas em contextos e situações diferentes, mas, para além disso, sentimos a urgência de vincular internacionalmente as comunidades libertárias para que o movimento volte a ter a influência social que almejamos frente o enorme desafio que representa viver nesses tempos. Também por isso estamos muito interessados em aproximar relações com companheiros por meio de intercâmbios de publicações, participação em encontros e atividades coordenadas, e o que nossa imaginação puder criar, em geral. Para finalizar, apenas nos resta mandar-lhes um fraternal abraço libertário e agradecer pela entrevista.
Traduzido por Geraldo Alves
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